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Homilia no Pontifical da Ressurreição Sé Patriarcal,

8 de Abril de 2012

 

1. Deus surpreende-nos sempre. A ressurreição de Jesus surpreendeu mesmo os seus discípulos mais íntimos: Maria Madalena, Pedro e João. E no entanto Jesus tinha ligado sempre o anúncio da ressurreição à referência à Sua morte. No Monte Santo, depois de se ter transfigurado diante destes mesmos discípulos, surpreendendo-os com o esplendor da Sua glória, recomendou-lhes que não falassem daquela manifestação até que Ele ressuscitasse dos mortos. Eles fizeram como Jesus mandava, “mas discutiam entre eles o que significaria ressuscitar dos mortos” (Mc. 9,9-11). São João protagonista do Tabor e da ida ao Sepulcro, comenta assim a sua surpresa: “Na verdade ainda não tinham entendido a Escritura, segundo a qual Jesus devia ressuscitar dos mortos” (Jo. 20,9).

 

Cristo é a grande surpresa de Deus, na expressão do Seu amor pelos homens. Deus fazer-Se Homem, estava sugerido no anúncio dos profetas, mas não claramente anunciado, misterioso demais para ser compreendido. Esta surpresa da ressurreição completa a surpresa de José quando pressentiu que a sua noiva Maria estava grávida antes de terem convivido intimamente. Cristo surpreendeu, muitas vezes, durante o seu ministério: quando fez milagres, na acutilância da Sua Palavra, na intimidade que Deus tinha com Ele. E quando já muitos acreditavam que Ele era o Messias prometido e esperado, deixar-Se matar é uma surpresa dramática que desdiz a fé de todos esses seus seguidores. E quando esse drama estava consumado, em que a recordação dos discípulos era a normal ternura pelo cadáver de um ente querido, a surpresa da ressurreição que os obriga a começar tudo de novo, a reler todos os acontecimentos e palavras da sua convivência com Jesus, a dar um lugar à fé que, apesar de tudo, ela nunca tinha tido, e a abrirem-se a outras surpresas no convívio com Jesus ressuscitado. O futuro começa agora, a sua fidelidade de discípulos vai ter outras expressões, abertura a todas as surpresas de Deus.

 

2. Na oração colecta estão enunciadas as duas surpresas desta ressurreição de Cristo: Ele é o vencedor da morte e abriu-nos as portas da eternidade.

A Sua vitória sobre a morte não é apenas pessoal, é uma vitória da humanidade. Em Cristo ressuscitado, cada um de nós pode vencer a morte porque Ele nos ensina a fazer da vida um dom. Sempre que se oferece a vida, com amor, já se venceu a morte. Mas a grande vitória sobre a morte é abrir-se à imortalidade, é assumir a nossa vocação de peregrinos de outra pátria e de        outra experiência de vida. Não sabemos como será essa forma de vida, será outra grande surpresa de Deus, apesar de já experimentarmos as suas primícias. Acolhamos as palavras do Apóstolo Paulo, proclamadas nesta celebração: “Se ressuscitastes com Cristo, aspirai às coisas do alto… Afeiçoai-vos às coisas do alto e não às da terra. Porque vós morrestes, e a vossa vida está escondida com Cristo, em Deus” (Col. 3,1-4).

Só a ressurreição de Cristo constrói em nós uma verdadeira abertura à vida eterna, prometendo-nos que a nossa morte, vivida na fé na ressurreição, será, neste mundo, para cada um de nós, a última surpresa de Deus.

3. A Páscoa significa passagem. Desejo-vos uma Páscoa, que seja surpresa de Deus na vossa vida concreta. Unidos a Cristo e fortalecidos pelo Seu Espírito, podemos viver a nossa vida neste mundo, sem fugir a nada do seu realismo, mas com a densidade da eternidade. Em Cristo ressuscitado, a nossa vida pode ser o lugar da surpresa contínua do amor de Deus por nós.

 

† JOSÉ, Cardeal-Patriarca