Bênção de Finalistas
Sentindo vibrar, ainda, no meu coração a intensa experiência de acompanhar tão de perto o Santo Padre, na sua visita a Portugal, quero transmitir-vos que lhe pedi uma especial bênção para vós. Acolhei-a com espírito filial.
1.Cada um e cada uma de vós está a terminar uma etapa marcante da sua vida. Todos têm dons a agradecer, na diversidade de formação académica, com percursos por vezes sinuosos. Em vós, nesta hora, vêem os vossos professores o resultado do seu trabalho e os vossos pais e mães o fruto do seu esforço para vos munir de um curso, que vos permita um desempenho competente da vossa profissão.
Sei que muitos de vós já conhecem a experiência do trabalho porque tiveram de exercer em simultâneo a tarefa de estudante e de trabalhador. Mas a vossa vontade de encarar o futuro numa profissão condizente com a preparação que escolhestes nem sempre será viável. Estais conscientes das dificuldades actuais. Passou uma época de sucesso fácil. Habitam-vos muitos medos, incertezas, inseguranças. À porta da Universidade não habita o emprego. O receio de uma frustração espreita-vos na primeira curva. Uma frente de adversidades pode abater ideais legítimos.
2.Mais se torna significativo, perante tal quadro, ouvirmos a Palavra de Deus que nos interpela, nos convoca para uma renovada confiança, nos abre o ânimo para uma alegria completa. Não são as vicissitudes do presente contexto económico e social a impedir a vossa alegria de viver. Basta que optemos por viver com austera simplicidade.
Entendei, caríssimos finalistas, o que aprendestes como uma graça acolhida para fazer frutificar na sociedade. Sendo graça dará encanto à forma como aplicais os saberes à verdade das situações e dos desafios. O apelo a permanecer no amor e na verdade que Jesus hoje nos faz, esteja sempre vivo nos vossos comportamentos. A cedência a critérios de mentira ou de meias verdades acabará por ser fatal, apesar da sedução imediata e momentânea. Manter a vivência ética e pautar a vida por valores perenes seja permanente caminho orientador. Assim, podereis resistir às pressões para falsear dados, para vos arrastar por vias de corrupção, para ceder a aparências de desastrosos resultados.
Permanecer no amor e na verdade implica muita perseverança e fortaleza para atingir objectivos acolhedores de um desenvolvimento pleno, integral, humanista. Permanecer no amor e na verdade é saber conciliar a profissão com a família, a valorização profissional com a sabedoria serena da vida pessoal. Certamente, haverá momentos que requerem sacrifício de alguma dimensão, mas a graça da família nunca vos afasteis dela, a graça do silêncio orante e da vida aberta à contemplação da vontade de Deus, nunca saia do vosso horizonte!
Não são as adversidades a retirar-vos a esperança e a confiança no futuro. Se a chama da fé arder dentro de vós, encontrareis, nas comunidades cristãs às quais pertenceis, o revigorar da energia para os tempos novos, que estou certo sereis capazes de construir, com criatividade, inovação e liberdade.
O futuro do mundo não passa por voltar atrás. Vós, caríssimos finalistas, sois pela afirmação do amor e da verdade, as bases de uma civilização a despontar. Não queirais mais do mesmo, nem vos aprisionem perspectivas ideológicas distorcidas da realidade. Jesus foi um realista. Faz-vos companhia permanente para juntos encontrardes lucidez para servir.
Um mundo melhor exige mudança de paradigmas. Vós sereis humildes responsáveis por uma alegria mais profunda. A humanidade tem urgência de outros sítios. Não vos isoleis. Rezai uns pelos outros para ser forte a vossa união. Trabalhai sempre para incluir a todos nos benefícios do vosso trabalho.
3.Sede fervorosos no Espírito. A sério. A sociedade portuguesa necessita de gente com fervor espiritual, com interioridade plena de vigor, que levante a ânimo da Nação e a todos mobilize para o amor e a verdade. Não vos senteis nos degraus da vida. Dai passos, com o olhar lançado à volta, para dentro e para o Alto. Assim, o fervor do Espírito não se apaga, nem sequer esmorece. Alimentai o vosso Espírito como tratais do vosso corpo. A sede de amor e de verdade é funda em humanidade.
Seja hoje a véspera de um exercício feliz e simples da graça que as vossas escolas vos transmitiram!
Alameda da Universidade, 15 de Maio de 2010
Dom Carlos A. Moreira Azevedo, Bispo auxiliar de Lisboa
