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1. Desejo, antes de mais, enviar as minhas mais cordiais saudações a todos vós, caros estudantes, que viestes nestes dias a Rocca di Papa para participar no VIII “Fórum Internacional dos Jovens” sob o tema: “Os jovens e a Universidade: testemunhar Cristo no mundo universitário”. A vossa presença é para mim motivo de grande alegria, pois constitui um testemunho brilhante da face universal e sempre jovem da Igreja. Vindes, de facto, dos cinco continentes, representando mais de 80 países e 30 movimentos, associações e comunidades internacionais.
Quero também saudar os reitores e professores universitários presentes no fórum, bem como os bispos, sacerdotes e leigos empenhados na pastoral universitária que nos próximos dias acompanharão os jovens nas suas reflexões.
Desejo exprimir os meus sinceros agradecimentos ao Mons. Stanislaw Rylko, Presidente do Conselho Pontifício para os Leigos, e a todos os seus colaboradores, pela realização desta feliz iniciativa. Permanecem vivas na minha memória as recordações das anteriores edições do Fórum, organizadas em simultâneo com as celebrações do Dia Mundial da Juventude. Foi neste ano decidido renovar a sua forma, conferindo-lhe um âmbito mais definido e acentuando a sua dimensão formativa, escolhendo para tal um tema específico para aprofundamento de um aspecto concreto da vida dos jovens. A temática deste encontro é certamente de grande actualidade e responde a uma necessidade real. Estou encantado por tantos jovens, provenientes de tantas culturas tão ricas e diversas, estarem reunidos em Rocca di Papa para reflecirem juntos, para partilharem as suas experiências, para infundirem uns nos outros a coragem de testemunhar Cristo no mundo Universitário.

2. É importante, na nossa época, redescobrir a ligação que une a Igreja e a Universidade. De facto, a Igreja não só desempenhou um papel decisivo na fundação das primeiras universidades, como tem sido uma verdadeira oficina de cultura, e ainda actuando hoje na mesma direcção através das Universidades Católicas e das várias formas de presença no vasto mundo da Universidade. A Igreja encara a Universidade como um desses “locais onde a vocação do homem para a busca do conhecimento e a ligação da humanidade à verdade como fim do conhecimento, se constituem numa realidade quotidiana” para tantos professores, jovens investigadores e gerações de estudantes (discurso à UNESCO, 1980).
Caros estudantes, na Universidade não sois apenas destinatários de serviços, sois antes os verdadeiros protagonistas das actividades lá desenvolvidas. Não é casual o facto de o tempo da Universidade coincidir com uma fase vital da vossa existência, durante a qual vos preparais para assumir a responsabilidade de fazer escolhas decisivas que orientarão todo o vosso futuro. Por este motivo é necessário que encareis o vosso percurso universitário com o espírito aberto à busca de respostas justas para as questões fundamentais sobre o sentido da vida, sobre a felicidade e a plena realização do homem, sobre a beleza como o esplendor da verdade.
Felizmente, está hoje mais esbatida a influência das ideologias e utopias fomentadas pelo ateísmo messiânico que tanto impacto tiveram no passado em muitos ambientes universitários. Não faltam, no entanto, novas correntes de pensamento que reduzem a razão apenas ao horizonte das ciências experimentais e, por conseguinte, ao conhecimento técnico e instrumental, reduzindo-a por vezes a uma visão céptica e niilista. Além de fúteis, estas tentativas de evasão às questões fundamentais do sentido profundo da existência, podem até tornar-se perigosas.

3. Mediante o dom da fé encontrámos Aquele que se apresenta com aquelas palavras surpreendentes: “Eu sou a verdade” (Jo 14, 6). Jesus é a verdade do universo e da história, o sentido e o destino da existência humana, o fundamento de toda a realidade. A vós, que acolhestes esta Verdade como vocação e certeza da vossa vida, cabe a responsabilidade de demonstrar a sua razoabilidade no ambiente e trabalho universitários. Surge pois a questão: “Com que profundidade incide a verdade de Cristo no vosso estudo, na vossa investigação, no vosso conhecimento da realidade, na formação integral da pessoa humana?” Pode acontecer que, mesmo entre os que se afirmam cristãos, alguns se comportem como se Deus não existisse. O cristianismo não é uma mera preferência religiosa subjectiva, em última análise irracional, e relegada ao âmbito da privacidade. Enquanto cristãos temos o dever de testemunhar o que afirma o Concílio Vativano II na Gaudeum et spes: “A fé lança sobre tudo uma luz nova, manifesta o plano de Deus sobre a vocação integral do homem e, portanto, orienta o homem para soluções que são verdadeiramente humanas” (nº11). Devemos demonstrar que a fé e a razão não são irreconciliáveis, mas que “a fé e a razão são como as duas asas com as quais o espírito humano se eleva para contemplação da verdade” (Fides et ratio, Intr.).

4. Jovens amigos! Vós sois os discípulos e as testemunhas de Cristo na Universidade. O tempo universitário seja, para todos vós, um tempo de grande amadurecimento espiritual e intelectual, que vos conduza ao aprofundamento do vosso relacionamento pessoal com Cristo. Mas, se a vossa fé está simplesmente relacionada com fragmentos de tradição, sentimentos bons ou uma ideologia religiosa genérica, não sereis certamente capazes de suportar o impacto do meio em que estais inseridos. Procurai, pois, manter sólida a vossa identidade cristã, e radicai-a na comunhão eclesial. Para tal deveis alimentar-vos na oração assídua. Escolhei, sempre que possível, os bons professores universitários. Não permaneçais isolados em ambientes que são por vezes difíceis, mas participai activamente na vida das associações, movimentos e das comunidades eclesiais que operam no âmbito universitário. Aproximai-vos das paróquias universitárias e deixai que as capelanias vos ajudem. É necessário que sejais construtores da Igreja na Universidade, ou seja, de uma comunidade visível que crê, que reza, que dá razões para a sua esperança e que acolhe na caridade qualquer traço de bem, verdade e beleza da vida universitária. Tudo isto não apenas dentro do campus universitário, mas onde quer que vivam e se encontrem os estudantes. Estou certo que os Pastores não deixarão de reservar especiais cuidados pastorais para o mundo universitário e destinarão a esta missão santos e competentes sacerdotes.

5. Caros participantes no VIII Fórum Internacional dos Jovens, alegro-me por saber que estareis presentes na Praça de São Pedro, quinta feira próxima, no encontro com os jovens da Diocese de Roma e Domingo na Missa do Domingo de Ramos, quando celebraremos a XIX Jornada Mundial da Juventude sob o tema: “Queremos ver Jesus” (JO, 12, 21). Será a última etapa de preparação espiritual para o grande encontro em Colónia em 2005. Não basta “falar” de Jesus aos jovens universitários: é necessário mostrar-lhes Jesus através do eloquente testemunho das nossa vidas (Novo Millenio Ineunte, 16). Desejo-vos que este encontro em Roma contribua para fortificar o vosso amor à Igreja Universal e o vosso empenho no serviço ao mundo universitário. Conto com cada um e cada uma de vós para transmitir às vossas igrejas locais e aos vossos grupos eclesiais a riqueza dos dons que nestes dias intensos estais recebendo.
Invocando a protecção da Virgem Maria, Sede da Sabedoria, para o vosso caminho, concedo uma especial Benção Apostólica a todos vós e aos que convosco – colegas, reitores, professores, capelães e pessoal adiminstrativo -, compõem a grande “comunidade universitária”.

Vaticano, 25 de Março de 2004