YOOtheme

Caríssimos Finalistas,
A vossa participação nesta cerimónia de bênção é uma atitude de fé. É bom que assumais o sentido e a responsabilidade deste gesto. Trata-se de considerar a fé cristã, não apenas como um sentimento religioso pessoal, mas como uma luz que dá sentido a toda a realidade humana, pessoal e social. O cristão é chamado a descobrir o sentido de todas as coisas à luz da fé, pois esta sugere uma compreensão nova de toda a realidade. É por isso que Jesus dizia aos discípulos: “Vós sois o sal da terra”, “Vós sois a luz do mundo”. O cristão é portador de um sentido novo. Era essa a mensagem do Livro da Sabedoria: “Foi Ele quem me deu um conhecimento exacto do real a fim de entender a ordem do Universo e a força dos elementos”. Na mensagem de Cristo é claro que o Reino de Deus não se manifesta, apenas, na interioridade de cada homem, mas também na edificação da comunidade, onde os homens se amam como irmãos. Quem se empenha na construção da sociedade tem de ter uma sabedoria que o inspira e orienta nos discernimentos. O pragmatismo na busca de soluções, pode ser eficaz, mas não constrói uma sociedade digna do homem. Na construção da sociedade os cristãos devem ter a competência que lhes permita serem eficazes, mas orientam-se na sua acção por uma sabedoria enraizada nesse sentido novo de todas as coisas.

Terminais o vosso curso, que vos preparou para serdes intervenientes, generosos e responsáveis, na construção de uma sociedade digna do homem, numa data particularmente significativa: o quadragésimo aniversário da Encíclica do Papa Paulo VI “Populorum Progressio”, sobre o desenvolvimento dos povos à luz da sabedoria evangélica que hoje se chama doutrina social da Igreja. Aí Paulo VI introduz no vocabulário político-social uma distinção importante entre progresso e desenvolvimento. O simples progresso económico e tecnológico não garante o integral desenvolvimento da pessoa humana. Resume o seu pensamento em síntese notável: “fazer, conhecer, ter mais, para ser mais, tal é a aspiração dos homens do nosso tempo, quando um grande número deles está condenado a viver em condições que tornam ilusória esta legítima aspiração” (n.6). Ser mais! Só haverá sociedade digna do homem quando a pessoa humana encontra condições de se desenvolver e exprimir na totalidade das suas potencialidades e do seu mistério. Esta perspectiva leva-o a afirmar que o desenvolvimento é o novo nome da paz.

Esta distinção continua com actualidade flagrante na sociedade em cuja construção e transformação vos ides empenhar. Não se trata apenas de progresso, mas de construir civilização. A eficácia da economia, o crescimento imparável das tecnologias, não são suficientes para construir civilização. Este depende mais do sentido de tudo isso, da sabedoria inspiradora de todo o desenvolvimento humano. Na vossa competência científica e técnica, deveis estar entre os melhores, mas sois semelhantes a todos os outros. O que se espera de vós como cristãos, empenhados na construção da cidade terrestre, é que sejais agentes de civilização. Esta não é só, nem sobretudo, obra de políticos; é responsabilidade de todos os construtores da cidade. É por isso que o Senhor vos chama sal da terra e luz do mundo.

É por isso que o vosso empenho na construção da sociedade é responsabilidade e missão; e esta exige discernimento e generosidade, paixão pelo bem comum, generosa vitória sobre egoísmos e projectos estritamente pessoais. Não se acende uma luz para a esconder debaixo do alqueire. Não se esconde uma cidade situada sobre um monte; e essa será sempre a situação da cidade dos homens, construída com os critérios do Reino de Deus.

Porque é missão, este vosso empenhamento na construção da sociedade, exige aprofundamento contínuo da sabedoria cristã. É que se o sal perder a força já não serve para nada, não dará um sabor novo à realidade. E a força do cristão que lhe permite afirmar a diferença vem-lhe do aprofundamento da relação com Cristo e a Sua mensagem. A qualidade da vossa fé marcará a qualidade do vosso contributo para uma sociedade mais justa, mais fraterna.

Nas condições concretas de uma sociedade secularizada, o cristão para construir a sua maneira específica de intervir e construir, não lhe basta o fervor religioso, é exigido um discernimento contínuo de ordem cultural e ética. E esse podeis fundamentá-lo no rico e abundante manancial da doutrina social da Igreja. Um cristão que deseje imprimir a marca da sua fé na sua contribuição para a construção da cidade dos homens, não pode desconhecê-la. Deixo aqui o desafio a todas as estruturas da pastoral universitária que promovam o seu conhecimento, proporcionando uma reflexão sobre a nossa realidade social à sua luz.

Saúdo-vos e felicito-vos. Um curso universitário não é um fim, mas um início de uma missão, vivida com entusiasmo, de construir uma sociedade marcada pela justiça, pela verdade, pela generosidade e pelo amor. Uma “civilização do amor”, lhe chamou Paulo VI. Para este longo caminho que agora começa, invoco para vós a bênção de Deus.