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1. O Pentecostes, como é narrado nos Actos dos Apóstolos, aparece-nos como a visibilidade de um mistério insondável e discreto, o Espírito Santo como plenitude dos dons de Deus, a sua presença e acção na realidade humana da Igreja e no coração de cada cristão. Ao natural desejo daqueles que escutam e seguem o Senhor de O verem e sentirem, Deus respondeu bondosamente com experiências de visibilidade do Seu mistério e da Sua solicitude amorosa, sob formas adaptadas a cada etapa da realização do Seu desígnio de salvação. Moisés no Sinai, depois de pedir a Deus que acompanhe e esteja presente na caminhada do Povo, ousa implorar-lhe: Deixa-me ver o Teu rosto (cf. Ex. 33,15-17e18). Este desejo de Moisés, Deus cumpri-lo-á plenamente em Jesus Cristo. A encarnação do Verbo eterno é a expressão máxima da visibilidade de Deus no meio do Seu Povo. Puderam contemplar o Seu rosto, sentir a força do Seu amor, escutar a Sua Palavra. O próprio Apóstolo João confessa: “A Deus nunca ninguém O viu. O Filho unigénito, que está no seio do Pai, deu-no-l’O a conhecer” (Jo. 1,18). O próprio Jesus afirma a Sua identidade com o Pai: “Quem Me vê, vê o Pai… Eu estou no Pai e o Pai está em Mim” (Jo. 14,9-10).
Com a Sua morte redentora, interrompe-se esta visibilidade de Deus. A ressurreição pertence já ao mistério invisível. Há um tempo em que não Me vereis, mas depois voltareis a ver-Me (cf. Jo. 16,16). Mas para que os discípulos pudessem ser testemunhas da ressurreição, o Senhor proporcionou-lhes, ainda, experiências de visibilidade da Sua nova vida de ressuscitado, tal como permitiu que o vissem elevar-Se ao Céu, para junto do Pai. O Espírito Santo é, depois da Páscoa, a nova forma de presença de Jesus no meio dos seus discípulos. Mas era importante que estes o sentissem, experiência sensível marcante que gravará na memória da Igreja a realidade da Sua presença contínua.

2. O Pentecostes é a plena realização do desígnio salvífico de Deus, toda ela obra da Trindade, consistindo a sua plenitude na participação dos homens na realidade da comunhão de vida e de amor das Pessoas divinas. Como diz o Concílio, “a Igreja aparece como um Povo unido pela unidade do Pai e do Filho e do Espírito Santo” (LG. nº 4). Esta plenitude só se tornou possível na ressurreição de Jesus, pois só unidos a Ele, formando com Ele um mesmo corpo, podemos penetrar na intimidade de Deus. É porque fazemos um com Cristo, que podemos receber o Espírito Santo, pois este é uma realidade íntima de Deus. Só ao seu Filho o Pai pode comunicar o Espírito; nós recebemo-lo, porque somos um com Cristo, e ao recebê-lo, Ele radicaliza essa unidade com Cristo e faz-nos participar nessa experiência insondável, que é o amor do Deus amor. É como nascer de novo, e o aprofundar, em nós, dessa experiência de amor é fruto do facto de comungarmos, com Cristo, do Espírito que o Pai nos dá. Nunca sentimos Deus e o Seu Filho tão presentes em nós como neste dom e acção transformadora do Espírito. A intensidade da sua presença dispensa a sua visibilidade. Esta é a realidade da Igreja, como Povo do Senhor, este é o desafio da santidade na vida de cada um de nós: o nosso ser profundo, a nossa verdade e a nossa alegria, são obra criadora desse Espírito de Deus. Se Jesus disse aos discípulos “sem Mim nada podeis fazer”, isto significa que sem o Espírito que Ele nos dá nada acontece em nós da ordem do Reino de Deus.
Já São Paulo o reconhece na Carta aos Coríntios: “Ninguém é capaz de dizer «Jesus é Senhor» a não ser pela acção do Espírito Santo” (1Cor. 12,3). O Espírito Santo realiza na Igreja a obra da salvação, que as nossas melhores capacidades humanas são incapazes de realizar. Toda a vida cristã é obra do Espírito Santo, e ignorá-lo é esvaziar a vida cristã do seu mistério e da sua beleza profunda. “Sem o Espírito Santo, Deus fica longe; Cristo permanece no passado; o Evangelho é letra morta; a Igreja é uma simples organização; a autoridade é um poder; a missão é propaganda; o culto, uma velharia; e o agir moral um agir de escravos”[1].
Esta acção do Espírito Santo exprimiu-se, sobretudo, na fecundidade sacramental da Igreja. É o Espírito que realiza a Eucaristia, actualização, pela Igreja, da oferta pascal de Cristo. Antes da consagração, o sacerdote reza assim: “santificai estes dons, derramando sobre eles o vosso Espírito, de modo que se convertam, para nós, no Corpo e Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo”[2]. É por Ele que a Igreja perdoa os pecados, como ouvimos agora na leitura do Evangelho: “Dito isto, soprou sobre eles e disse-lhes: “recebei o Espírito santo; os pecados ficarão perdoados àqueles a quem os perdoardes” (Jo. 20,23). Todo o agir e toda a fecundidade da Igreja são sobrenaturais por natureza. Esquecê-lo é reduzir a Igreja a uma dimensão natural, obra das nossas mãos, mesmo exprimindo o melhor de que somos capazes.

3. Esta acção misteriosa, porque sobrenatural, do Espírito Santo, não se justapõe à acção humana da Igreja, antes a eleva, conduzindo-a à sua verdade total. É assim com a pregação e o testemunho apostólico: a nossa palavra humana, por mais sincera e convicta que seja, é incapaz de comunicar a fé. Esta é fruto da acção do Espírito que exprime, através da palavra humana, a sua capacidade de transformar os corações. É, sobretudo, assim, com o amor. Amar é a mais bela das capacidades humanas. Mas o amor humano, o mais autêntico, é incapaz de se transformar em caridade, a maneira de Deus amar derramada nos nossos corações. Confundir o amor humano com a caridade é o mais grave sinal de quem não conta com a novidade da acção do Espírito na sua vida. Mas pela acção do Espírito Santo, o amor humano torna-se caridade.
E o que dizer da acção do Espírito na nossa busca de fidelidade e de autenticidade? Nas dificuldades, ele é força; nas dúvidas, é luz; no desânimo, é alento; no sofrimento, é consolação; na morte, é esperança; na tristeza, é promessa de alegria. Porque Ele é sempre, em acção, no concreto da nossa vida, a presença amorosa de Deus, manifestação da solicitude de Jesus Cristo, nosso Bom Pastor.

4. Queridos jovens que ides ser confirmados, através deste sacramento da Igreja, ides receber o dom mais precioso de Deus, já prometido no dia do vosso Baptismo, garantia da vossa fidelidade e da vossa felicidade, fonte das surpresas mais maravilhosas que a vida vos proporcionará. Quando, ao ungir a vossa fronte, eu vos disser, “recebe, por este sinal, o Espírito Santo, o dom de Deus”, vós sentireis, como nunca, que sois de Jesus Cristo desde o vosso Baptismo, pois Deus só dá este dom do Espírito ao Seu Filho Jesus e àqueles que lhe pertencem e com Ele formam um só corpo.