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Queridos Finalistas,

Estais aqui reunidos, convocados por mim, Bispo da Igreja de Lisboa, para agradecer, louvar o Senhor e confirmar projectos de realização pessoal e de serviço à comunidade. O facto de serdes convocados pelo Bispo, que preside à Igreja, e de vos reunirdes com ele nesta acção de louvor, confirma-vos como Igreja, como membros desta Igreja de Lisboa. Viestes livremente, preparastes-vos para este momento, estais em festa, abraçando o vosso futuro com esperança e determinação.

Este não pode ser um momento banal, ao ritmo da rotina académica. Há momentos da nossa vida que podem marcar o futuro ainda a viver.

Resumistes toda a vossa determinação de fidelidade e de esperança num lema por vós escolhido: “Saber para servir”. É preciso captar a amplitude de sentido destes dois verbos, saber e servir, à luz da Palavra de Deus e da envolvência da sabedoria cristã.

Saber! Ele enuncia, antes de mais, o propósito de não vos contentardes com o que já aprendestes, mas que continueis sempre a aprofundar e a alargar o âmbito do saber específico do curso que escolhestes. O grau de licenciatura não pode significar o fim da aprendizagem; significa, sim, o estar preparado para progredir por si, ajudado pela iniciação aos saberes específicos e aos métodos de busca que a Escola vos proporcionou. O grau não é o fim, é antes o início de um longo percurso, marcado pela determinação pessoal, em que o saber progride ao ritmo das exigências da sociedade em que estareis mais comprometidos e em que procurareis as ajudas que vos parecerem mais apropriadas. Este progredir nos saberes específicos é condição para adquirir competência, condição essencial para se estar na sociedade de maneira fecunda e construtiva. A qualidade da sociedade depende, em grande parte, da competência dos seus servidores.

Mas nenhum saber específico, cada vez mais centrado num aspecto particular da sociedade, é suficiente para vos garantir a sabedoria, quadro alargado e envolvente da busca do sentido do que se é e do que se faz. Ninguém que fique prisioneiro do seu saber específico terá acesso à sabedoria. Ele deve ser completado com tudo o que nos ajude a captar o sentido da vida e da história. E o futuro harmónico da sociedade depende mais dessa sabedoria do que das competências científicas e técnicas.

Para vós, que sois cristãos e que hoje vos afirmais como membros da Igreja, a visão cristã do homem e da sociedade é elemento importante na aquisição da sabedoria. É preciso aprender a escutar a Palavra de Deus e da Igreja, e receber daí a luz e a força mobilizadora para a interpretação da realidade. Muitos cristãos praticam a sua fé no templo, mas lêem a realidade da sociedade em chave profana, marcada pela cultura ambiente, que, embora de matriz cristã, se foi afastando dela e caindo na visão secularista do mundo. É preciso retomar o hábito de os cristãos se reunirem para analisar a realidade em que estão inseridos, em chave cultural cristã, descobrindo na Palavra de Deus e da Igreja a luz que dá sentido e mobiliza para uma responsabilidade ética de missão e de acção, para transformação da sociedade. E isto vós podeis fazê-lo. Desafio-vos a fazê-lo, na certeza de que tereis todo o nosso apoio nessa busca da sabedoria cristã.

No Programa de Pastoral da nossa Diocese, que amanhã será apresentado à Igreja de Lisboa, há outra proposta que vós podeis realizar, no âmbito desta busca da sabedoria cristã: no âmbito do “Ano Paulino”, proclamado pelo Papa Bento XVI para celebrar os 2000 anos do nascimento do grande Apóstolo, a Igreja de Lisboa preparou um itinerário a percorrer durante um ano, “Um ano a caminhar com São Paulo”, que nos levará, na companhia de Paulo, a reencontrar-se com a fonte da sabedoria cristã. É um itinerário que poderá ser feito individualmente ou em grupo. Desafio todos os universitários de Lisboa a caminharem com São Paulo durante este ano, e peço às estruturas diocesanas da Pastoral Universitária que apoiem e dinamizem este processo.

O segundo verbo do lema escolhido é servir. Aqui podemos guiar-nos pela Palavra do Evangelho que há pouco escutámos: “O maior de vós seja como o menor e aquele que manda seja como quem serve”. Servir não é abdicar da realização pessoal; é encontrá-la no serviço dos irmãos. Supõe o assumirmo-nos, não apenas como indivíduos, mas como membros de uma comunidade, pôr o bem da comunidade acima dos nossos interesses pessoais, e discernir com clareza e generosidade a melhor maneira de cada um de nós contribuir para o bem comum.

O primado do indivíduo marca a evolução cultural do nosso tempo, o que faz desaparecer do horizonte ético a responsabilidade comunitária. As nossas sociedades são cada vez menos comunidades, mas conjunto de indivíduos e de grupos, cujos conflitos são regulados pela Lei. As sociedades contemporâneas carecem dramaticamente de autênticos servidores. Esses têm de aliar a competência à generosidade.

Que Maria Santíssima, a sede de sabedoria e a Serva do Senhor, vos abra o espírito à fonte da sabedoria e à generosidade do serviço.